“uma breve comparação entre os estilos dos três autores pode ser produtiva. Afinal, um pouco de competição saudável não faz mal a ninguém”.
Muitos consideram Machado de Assis o maior escritor brasileiro, devido à sua importância não só literária como também linguística e política na época. No entanto, há aqueles que defendam que a obra de Lima Barreto é mais ampla em certos aspectos e outros ainda que apontam Guimarães Rosa como o grande inovador da literatura brasileira. Sem querer tirar o mérito de cada um nem ousar obter uma resposta definitiva à polêmica questão, acredito que uma breve comparação entre os estilos dos três autores pode ser produtiva. Afinal, um pouco de competição saudável não faz mal a ninguém.
Machado de Assis (1839 – 1908) nasceu e morreu no Rio de Janeiro, cenário que explorou bastante em suas obras. Ele se aventurou em todos os gêneros literários, além de ter sido jornalista e crítico. Machado é o patrono da Academia Brasileira de Letras e contribuiu para a uniformização da gramática da língua portuguesa no Brasil. Dentre seus romances mais conhecidos, estão Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Esaú e Jacó. Seu estilo é caracterizado por uma ironia sutil e bem humorada, que esconde críticas ácidas ao comportamento humano em geral. Seus cenários costumam ser urbanos, compostos por personagens estereotipados da burguesia, seu principal alvo de críticas (mesmo sendo também seus principais leitores). A complexidade da filosofia machadiana e de seus narradores intrometidos e dúbios são até hoje objeto de análise de diversos estudos acadêmicos e motivo de reflexão para diversos leitores curiosos.
Lima Barreto (1881 – 1922), também carioca, é contemporâneo de Machado. Ao contrário deste, não teve tanto reconhecimento em vida, por conta da discriminação que sofria por sua cor e condição social. Seus romances, como Recordações do Escrivão Isaías Caminha, Triste Fim de Policarpo Quaresma, e Clara dos Anjos apresentam uma crítica mais dura e explícita à sociedade da época. O escritor teve sérios problemas relacionados ao alcoolismo e à depressão, chegando a ser internado em uma clínica psiquiátrica. Ele narra essa experiência dolorosa na clínica em Diário Íntimo. A linguagem de Lima Barreto é coloquial e despojada, principalmente por apresentar muitos personagens das classes mais baixas. A revolta em sua literatura é mais latente, revelando seu espírito libertário.
Guimarães Rosa (1908 – 1967) nasceu em Minas Gerais e morreu no Rio de Janeiro, dividindo-se entre as duas cidades ao longo de sua vida. Além de escritor, foi também médico e diplomata, experiências que influenciaram sua literatura. Em obras como Sagarana, Grande Sertão: Veredas e Campo Geral, destaca-se o homem do interior, do sertão, com sua simplicidade e sabedoria. Dentre os pontos altos de sua ficção, sobressai sua criatividade linguística. O autor é famoso por seus neologismos, criações de termos surgidos da mistura de línguas, arcaísmos e modernismos. Guimarães, estudioso de inúmeros idiomas, sabia manipular a língua de maneira magistral, para a dificuldade dos tradutores e a alegria dos apreciadores de uma literatura bem feita.
Em termos de importância geral para a cultura e literatura brasileiras, eu diria que Machado vence em disparada. No entanto, se considerarmos apenas o viés de romancista, talvez um empate técnico entre os três fosse válido. Ainda assim, se uma escolha fosse imposta, eu permaneceria ao lado de Machado e poria Guimarães no segundo lugar e Lima Barreto em terceiro. Claro que essa visão é pessoal e restrita. O mais importante mesmo é que saibamos apreciar as obras deliciosamente ricas em forma e conteúdo desses grandes autores nacionais.
http://homoliteratus.com/quem-e-o-maior-romancista-brasileiro-machado-de-assis-lima-barreto-ou-guimaraes-rosa/
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