Natal e Literatura, tudo a ver. E por isso alguns colaboradores do Homo Literatus resolveram indicar algumas narrativas natalinas para celebrar esta grande data. Confira as nossas dicas:
Os Mortos, de James Joyce – por Márwio Câmara
Considerada uma das maiores obras-primas do gênero conto, superando, segundos os críticos, ao próprio Tchekhov, esta, sem dúvida, é uma narrativa que ficará guardada, para sempre, na mente e no coração de muitos leitores.
A ação se passa exatamente entre os dias 24 e 25 de dezembro, durante a tradicional festa de natal no casarão das senhoritas Morkan. É lá que acompanharemos um rico painel de personagens da alta sociedade de Dublin do início do século XX, com seus vestidos de alta costura, valsa, piano, champagne e mesa farta, em clima de confraternização. Neste mesmo cenário, conflitos ligados à cultura e política nacionalista serão mostrados através de pequenas discussões acaloradas entre os convidados. Porém, o grande triunfo da estória gira em torno do passado da senhora Gretta, a esposa de Gabriel. O conto traz uma belíssima reflexão sobre como os mortos podem permanecer presentes em nossa vida, e como os mesmos podem influir no destino daqueles que estão vivos. Vale cada página.
A aventura do pudim de Natal, de Agatha Christie – por Sérgio Tavares
Agatha Christie tinha atração pelo Natal. Vinte anos depois de O Natal de Poirot, ela publica esse A aventura do pudim de Natal, coletânea de contos fornidos que traz seus célebres “detetives” envolvidos em casos abraçados pela atmosfera natalina.
A introdução é um deleite à parte, em especial por trazer à lume lembranças ricas que, para leitores mais atentos, elucidam os caminhos de suas histórias. Christie conta que, após o falecimento de seu pai, ela e a mãe começaram a passar o Natal com a família de seu cunhado, no norte da Inglaterra. Em Abney Hall, “a ceia atingia proporções colossais”, diante da qual havia uma competição para quem comia mais. Sopa de ostras, linguado, peru assado, pudim de passas, tortas de frutas e bolo de amêndoas. “Que maravilha ser um criança gulosa de onze anos!”, regojiza-se.
Esse clima que dá tom ao conto que empresta nome ao livro, sobre o qual deito a minha escolha. Passa-se durante uma ceia de Natal, numa mansão inglesa do século XIV soterrada pelo inverno, na qual Poirot hospeda-se a fim de desvendar o sumiço de um valioso rubi. A trama é básica: um príncipe, com o casamento arranjado com uma prima, enfeita a namorada com joias e esta desaparece, levando consigo a pedra preciosa. O mistério está exatamente no motivo.
Gosto desse conto por concentrar dois procedimentos não muito comuns às tramas de Christie: primeiro, a investigação não parte de um cadáver; segundo, há um plot twist saboroso. Tem também uma frase que sempre me vem à mente, quando estou diante dessa iguaria cremosa: “Não coma nenhum pedaço do pudim de passas. Uma pessoa que lhe quer bem”.
De fato, gosto desse livro, por tê-lo herdado da humilde biblioteca da minha mãe, onde iniciou-se a minha formação literária. Por ele, me lembrar assim como para a autora, os Natais da infância. Por, toda a vez que pego um livro da Agatha Christie, recordar-me de uma mulher que trabalhou com a minha mãe, que chamava a Dama do Crime de “A Gata Triste”.
Um ótimo Natal a todos! Evitem o pudim.
Nicholas Era…, de Neil Gaiman – por Vilto Reis
Publicado no Brasil no livro Fumaça e espelhos, o conto Nicholas Era… tem pouco mais de cem palavras. Foi escrito por Gaiman para enviar em um cartão de Natal para amigos – ilustrado pelo capista das edições de Sandman, David McKean. A pequena história traz uma versão muito diferente de quem nós conhecemos popularmente como São Nicolau. Afinal, é Neil Gaiman. E Neil Gaiman é sombrio, mesmo quando se trata de um conto de Natal (se quiser ler na íntegra, é só clicar aqui)
O conto narra a história de um natal de Jesus, que, como quem leu “O Guardador de Rebanhos” sabe, de vez em quando se faz menino. Este conto foi publicado pela primeira vez em livro na coletânea Andanças do Demônio (1960). Atualmente, a obra é publicada em conjunto com outra coletânea de contos do autor, “Novas Andanças do Demônio” (1966), onde existe outro conto de Natal, A Noite que Fora de Natal.
O presente do meu grande amor, diversos autores (organizado por Stephanie Perkins) – por Clara Madriguiano
A surpresa do final de ano (e elas sempre existem) foi O Presente do Meu Grande Amor, uma coletânea natalina, lançada recentemente pela Intrínseca. Confesso não ter muita experiência nas duas partes: nem em antologias sobre o Natal e nem em antologias de jovens adultos, mas também admito que as histórias contidas nesse volume me cativaram. Alguns dos contos são mágicos; mágicos de verdade, com fantasia e criaturas sobrenaturais à espreita e maldições que precisam ser quebradas; outros são bem calcadas na realidade, mas nem por isso deixam de ter sua própria magia (como esta época tem, para tantas pessoas). Recomendado como o equivalente literário de uma caneca cheia de chocolate quente.
Razão de o pai natal ter barbas brancas, de Jorge de Sena – por André Benjamin
O conto foi primeiramente publicado na revista Acção (1944), e é a primeira obra de ficção escrita por Jorge de Sena. Ele pode ser lido e interpretado de diversas formas, como o autor nos alerta em epígrafe: “Para os filósofos, como meditação demonológica acerca do VIII Poema de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro (Sena foi um dos primeiros intelectuais a estudar e divulgar a obra de Fernando Pessoa). / Para as crianças grandes, como apólogo humorístico. / Para os meninos pequenos, como verdadeiro conto de Natal.
Nele é narrado a história de um natal de Jesus, que, como quem leu O Guardador de Rebanhos sabe, de vez em quando, se faz menino. Foi publicado, pela primeira vez, em livro na coletânea de contos Andanças do Demônio (1960). Atualmente a obra é publicada em conjunto com outra coletânea de contos do autor, intitulada Novas Andanças do Demônio (1966), onde existe outro conto natalino, A Noite que Fora de Natal.
Dica bônus:
É claro que não poderíamos deixar de citar o clássico Um conto de Natal, de Charlie Dickens. A obra foi escrita em 1843, e até hoje é uma das mais celebradas narrativas natalinas, adaptada, inúmeras vezes, para o teatro, cinema e TV. Resumidamente, o conto narra sobre um rabugento e solitário velho de nome Scrooge, que não vê razões para tanta alegria durante a data natalina, além de chatear-se pelo fato de ter que dar folga ao seu secretário. Porém, na noite de Natal receberá a visita do fantasma Marley, que fora, em vida, o seu ex-sócio. Tal encontro mudará para sempre a vida rancorosa do velho.
http://homoliteratus.com/as-6-melhores-narrativas-natalinas/
Nenhum comentário:
Postar um comentário