segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A prova que condenou Oscar Wilde por ser homossexual

Em tempos em que os homossexuais têm mais liberdade de expressão, embora ainda em luta, pensar que alguém foi um dia condenado por “cometer atos imorais com rapazes” chega a surpreender.
O autor de O Retrato de Dorian Grey, Oscar Wilde (1854-1900), apaixonou-se por Lord Alfred “Bosie” Douglas, terceiro filho do Marquês de Queensberry e estudante de Oxford. Eles se conheceram no verão de 1891 e foram amantes por quatro anos. Mas em 1895, o Marquês foi ao tribunal e acusou o escritor de envolvimento com homossexualidade, isto era um crime na época. Wilde negou com todas as forças sua opção sexual, mas diante das provas, limitou-se a defender a noção de amor que praticava. Mesmo assim, condenado, teve que cumprir dois anos de prisão com trabalhos forçados, por prática de “indecência grave”. Embora a emenda em que se baseasse o julgamento apenas tratasse de “atos indecentes” em geral – o que visava proteger as mulheres de ataques sexuais e prostituição – graças a seus termos vagos, serviu para prender Wilde. Na época do julgamento, sua família mudou-se para a Suíça e mudou o sobrenome para Holland, buscando fugir da desonra.
Lord Alfred Douglas, por George Charles Beresford, 1903.
Lord Alfred Douglas, por George Charles Beresford, 1903.
Quando foi solto, em maio de 1897, Oscar Wilde exilou-se em Paris. Estava falido e viveu da ajuda de amigos, vivendo em hotéis baratos até o fim da vida, em 1900, com 46  anos de idade.
Abaixo você uma das provas apresentadas, correspondência de Wilde para Bosie:
No original:
January 1893, Babbacombe Cliff
My Own Boy,
Your sonnet is quite lovely, and it is a marvel that those red-roseleaf lips of yours should be made no less for the madness of music and song than for the madness of kissing. Your slim gilt soul walks between passion and poetry. I know Hyacinthus, whom Apollo loved so madly, was you in Greek days.
Why are you alone in London, and when do you go to Salisbury? Do go there to cool your hands in the grey twilight of Gothic things, and come here whenever you like. It is a lovely place and lacks only you; but go to Salisbury first.
Always, with undying love, Yours, OSCAR.
Tradução:

Janeiro 1893, Babbacombe Cliff
Meu querido menino,
O seu soneto pareceu-me bastante agradável, e é maravilhoso que esses lábios de rosa desabrochada possam ser tão bem talhados para a música das palavras quanto para as loucuras de beijar. A sua alma de cintura delgada passeia entre a paixão e a poesia. Sei que Jacinto, a quem Apolo tanto amou, foi você naqueles dias da Grécia antiga.
Por que está sozinho em Londres, e quando irá para Salisbury? Vá até lá e arrefeça as suas mãos no crepúsculo acinzentado das coisas góticas, e venha para cá quando quiser. É um lugar adorável, mas falta você, vá a Salisbury primeiro.
Sempre com amor imorredouro,
Teu Oscar
In: ORSINI, Elizabeth (org.). Cartas do Coração. Uma antologia do amor. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

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