Antes de tudo, não o sou original. Não importa o que digam ou o que pensem, de originalidade nada tenho, tudo o que sou, já muitos foram antes, tudo o que escrevo, já foi escrito por outros, eu sou assim uma repetição.
Continuo a afirmar que não sou original, mas nunca serei uma cópia de ninguém, nunca serei um Dostoiévski, Kafka ou Adorno, pois todos esses tem nome, e eu também tenho um, e é um dever natural fazer desse nome alguma coisa, dar-lhe a minha própria história.
E ambiciono sim ser original, mas nunca vou conseguir ser, ninguém realmente é, porque o nosso pensamento é sempre construído por algo que nunca foi nosso, somos estimulados pelo exterior e pelos outros, ou seja, pelas experiências diretas e indiretas de nossas vidas.
Nós não somos simplesmente nós, desde que nascemos aprendemos com o que nos rodeia, e, portanto também com as pessoas. Quem julgamos ser, é quem apresentamos ao mundo. É, portanto, muito subjetivo e quase impossível ser original, pois somos todos parte daquilo que outros já foram. Além dos condicionamentos e das educações conscientes ou inconscientes que sofremos. Somos um ser social e não isolado numa redoma de vidro, longe das influências dos costumes e culturas.
Porém, apesar de tudo, estou cansado de ver escritores que têm várias influências que condizem em nada com a proposta deles. O problema é que no Brasil, a maioria praticamente só gosta de coisas que conhece. Tem medo do desconhecido. Prefere ficar na mesmice, porém quando um escritor faz uma literatura diferente e acerta, ele dura o suficiente para ser melhor do que 100 escritores que soam iguais e vão ao embalo de 2 ou 3 que fizeram um sucesso absurdo.
Não digo que é preciso ser 100% original, não tem como ser assim, mas o famoso mais do mesmo não dá mais. E não digo também que faço melhor. A questão aqui é que prefiro errar por tentar algo de novo do que “acertar” praticamente copiando algo já feito, ou seja, sendo sombra dos outros, uma mera caricatura.
Muitos escritores deveriam ser naturais. Ler grandes autores, mas jamais perder sua naturalidade. Segundo o escritor David Morrell, é importante ser você mesmo na hora de escrever, evitando contar uma história de uma maneira que você não está acostumado, já que o leitor escolhe seus autores pelo estilo e pelo tipo de texto que escrevem.
Como dizia Chimamanda Adichie: contar uma única versão sobre nós mesmos pode significar abrir mão de viver. E era só o que nos faltava, ter que fazer uma literatura politicamente correta. O problema não é o que existe, mas o que não existe, o que não está lá. O perigoso é não existirem livros com outras cores e realidades, com diferentes autores e personagens.
A mesmice: um monte de escritores iguais, escrevendo o mesmo tema, que parece que é tudo uma coisa só. O bom é que sempre tem aqueles subversivos, que mesmo não sendo uma obra-prima, são neles que me agarro, fugindo das rimas, enredos óbvios e manjados com um estilo padronizado. O verdadeiro artista continua lá e graças a sua incapacidade de adaptação, a sua loucura, conservou contraditoriamente os atributos mais preciosos do ser humano.
http://homoliteratus.com/escritores-originais-nao-nao-e-bem-isso-que-precisamos/
Nenhum comentário:
Postar um comentário