“Mas os mortos, pensou Lily, encontrando em sua intenção certo obstáculo que a fez parar e refletir, dando um passo ou mais para trás, oh, os mortos! Murmurou ela, nos davam pena, facilmente eram postos de lado e até meio desprezados por nós. Eles estão à nossa mercê.” – Virginia Woolf, Ao farol.
Quando se fala em Virginia Woolf, logo as pessoas pensam numa pessoa depressiva, triste. Uma pessoa que resolveu colocar um ponto final em sua vida, suicidando-se. Ponto final que cobriu como um véu cinza toda a trajetória da mulher que lutou a favor da liberdade, da arte e do pacifismo. No entanto, este ato marcante e cruel aos nossos olhos, que desde sempre foram treinados a olhar para a vida com apego e paixão, não justifica e nem determina a vida de Virginia Woolf, uma vez que ela mesma afirmava com frequência em seu diário: “Eu sou absolutamente feliz”.
A Virginia que hoje está a nossa mercê era conhecida por seus amigos como uma mulher de risos e movimento. Irônica, adorava uma festa, mas não podia conter sua língua afiada quando as pessoas não agiam de forma verdadeira num evento, e sim, se esforçavam para serem apenas simpáticas. Em certa ocasião, foi obrigada por sua amiga Ethel Smith a ir a um jantar de uma dama britânica chamada Lady Rosebery, e lá se sentiu “traída” por Ethel. Em seu diário escreveu que a festa foi “um danse macabre, uma tagarelice fútil que parecia escarnecer do que a ela importava”, “apenas polidez forçada onde havia esperado risos e espontaneidade”. Por este motivo, Virginia brigou com Ethel e teve uma crise nervosa que a obrigou ficar em repouso por algumas semanas. Porém mais tarde, reconheceu em carta a Ethel que parte de sua fúria provinha do recente processo de criação de As Ondas.
As Ondas: Uma flor de seis faces
A cada novo livro Virginia passava por um processo de sofrimento e tortura, o que não foi diferente com As Ondas. Buscando superar os estilos já consagrados de Mrs. Dalloway e Ao Farol, a escritora entrou num intenso processo de criação. Ela acreditava que ao escrever, deveria mergulhar a fundo em seu subconsciente, encontrando ali respostas e verdades universais.
Em Mrs. Dalloway e Ao Farol, a escritora projetou toda a sua ira no que chamou de “O Anjo da Casa”. Este Anjo ao qual esses livros vieram para destruir, representava a figura e o papel da mulher na sociedade vitoriana inglesa. Virginia cresceu num mundo onde a mulher era educada para servir e obedecer ao homem. Todo o universo feminino girava em torno do patriarcalismo, e isso deixou fortes feridas na escritora. Ela se sentia completamente atacada com as desigualdades de gênero (termo que não existia na época). Dizia que as mulheres e o mundo eram escravos dos homens e que isso era completamente injusto. Então escreveu Ao Farol e Mrs. Dalloway no intuito de usar suas ideias subversivas para dar voz às mulheres que já não mais pretendiam se submeter ao domínio dos homens.
Mas seu romance As Ondas seguiu um sentido diferente. Virginia acreditava que o Anjo que tanto a perturbava estava morto. Que conseguira destruí-lo com os livros anteriores e, também porque a Primeira Guerra Mundial acabara abalando muitos dos valores presentes na Europa. Então ela acreditava que escreveria agora histórias na forma exata que o cérebro retém. Estava ciente de que já havia percorrido um longo caminho na criação literária. Era famosa e vendia relativamente bem. Seus outros dois livros, Orlandoe Um Teto Todo Seu, a projetaram como escritora de sucesso, e ela se orgulhava de poder manter uma casa e pagar o salário de outros cinco funcionários da Hogarth Press, editora que mantinha com seu marido Leonard no andar inferior de sua residência no bairro de Bloomsbury.
No entanto, essas conquistas obtidas com os escritos anteriores não pararam Virginia. Provavelmente teria sucesso se começasse a escrever livros comerciais, mas resolveu encarar o duro trabalho de quebrar os moldes e ir além de estilos já consagrados. As Ondas, escrito no começo da década de 30, foi um romance de transição. Ele traz seis personagens que, por meio de solilóquios, narram as experiências que tiveram com um amigo em comum que morrera há anos (esse personagem que morrera era a projeção de Thoby, irmão de Virginia, falecido em 1906 após beber água contaminada na Grécia).
No livro, cada um dos personagens tem um par que se completa. O par de poetas que tem uma visão transcendental do mundo, o par de personagens caseiros que se contenta com a vida cotidiana e simples, e por fim, o par de personagens que se liga nas questões sexuais. Três homens e três mulheres, uma flor de seis faces. Neste hexagrama Virginia imaginou “o ser humano completo que fracassamos em ser, mas que, ao mesmo tempo não conseguimos esquecer”.
Além disso, o livro traz como fundo a mensagem questionadora de como podemos viver num mundo em que as pessoas morrem prematuramente. Como é possível sobreviver a acontecimentos assim? Respondendo a essa questão, o livro diz que a arte é quem nos proporciona a vida e a sobrevivência. A arte é um cavalo no qual devemos galopar e seguir em frente.
Virginia passou dois anos trabalhando em As Ondas. Ela dizia que a escrita a mantinha saudável e que além de controlar o excesso de pensamentos que vinham na cabeça, também a ajudava atingir um estado de nobreza através das verdades adquiridas com os textos. Quando o livro estava pronto, começava outra tortura em sua vida. Com medo da crítica e da rejeição pública, ela sempre acabava cedendo aos nervos e entrando num ataque de euforia. Como havia dado o máximo de si na produção do livro, estava fraca e exausta para controlar a razão, então ficava extremamente suscetível e sensível a situações e as pessoas, como foi o caso da festa de Lady Rosebery, em que ela surtou e chegou a dizer a Leonard “se você não estivesse aqui, eu teria me matado…”.
Outras coisas também afetavam os nervos de Mrs. Woolf. Quando terminou de escrever As Ondas, ela se deparou com “pratos sujos, garrafas vazias e pedaços de papel higiênico”. Este contraste entre a rica vida artística e as tarefas domésticas a aborreciam muito. Para piorar as coisas, ela mantinha um relacionamento explosivo com a sua empregada Nelly Boxall. Nelly vivia com os Woolfs desde que eles se casaram. Sentia-se parte da família. Mas Virginia dizia que ela invadia o seu espaço emocional, que entrava sem bater em seu quarto e que a interrompia durante a escrita. Elas viviam em guerra. Virginia afirmou uma vez em seu diário que Nelly era um híbrido, resultado do cruzamento de gerações inglesas que não deram certo. Um câncer deixado pelas gerações anteriores. Um ser sem o menor raciocínio lógico. E temia ter que viver com ela o resto da vida.
Durante uma briga com Nelly, Virginia se viu obrigada a demiti-la, mas voltou atrás quando a empregada disse que jamais poderia viver sem a patroa, que a amava demais para abandoná-la. Isso comoveu Virginia, pois sabia que as palavras de Nelly eram puras e verdadeiras, já que ela não era capaz de usar máscaras sociais. Em outro momento Nelly teve um ataque de dores e Virginia, chorando, a levou imediatamente para um hospital, onde Nelly teve que passar duas semanas internada. Era um relacionamento muito íntimo e ambíguo.
No período em que Nelly esteve internada, Virginia aproveitou para descansar em sua casa de campo em Rodmell. Era um alívio poder passar um tempo longe da vida agitada de Londres. Ela adorava caminhar, e fazia isso todas as manhãs. Estava sempre descobrindo caminhos no meio do mato, observando os pássaros e a natureza. Mesmo com chuva, não perdia a oportunidade de contemplar o campo e as belezas naturais. Dizia que ali havia beleza para fazer feliz uma sociedade toda.
A viagem à Alemanha
Era famoso o gosto de Virginia por viagens. Em maio de 1935 ela e Leonard partiram rumo à Alemanha. Leonard era judeu, e sabia que corria riscos estando em território alemão, mas pelo que eles chamaram de sentimento de contestação, resolveram ir. Hitler, a quem Virginia classificou de babuíno ao lado de Mussolini, já estava no poder, mas antes da partida procuraram um diplomata inglês para orientá-los sobre os perigos que corriam. Uma das orientações feitas pelo diplomata, era a de que evitassem multidões e cerimonias oficiais. No entanto, por coincidência, acabaram errando o caminho e indo parar numa cidade onde Hitler e outros nazistas fariam um discurso.
Pouco antes da viagem, Leonard ganhou de um amigo um sagui que batizou de Mitzi. O antigo dono de Mitzi estava com dificuldades para criá-la e a doou a Leonard, que em uma semana conseguiu restabelecer a saúde do animal. Ele se orgulhava deste fato e enquanto se orgulhava disso,Virginia se orgulhava de, com o dinheiro de seus livros, ter comprado um carro conversível que batizou de Dilúvio.
Dirigindo o Dilúvio e com Mitzi no pescoço, Leonard errou o caminho e encontrou uma multidão que saudava Hitler. As ruas estavam cheias de pessoas. Havia placas e cartazes nos muros dizendo que os Judeus não eram bem-vindos. Virginia temeu que fossem descobertos, mas a multidão não resistiu aos encantos e a fofura de Mizti. Todos queriam vê-la. Todos cumprimentavam o pequeno macaquinho. Graças a Mitzi eles não foram pegos e descobertos na Alemanha.
Os Anos
No período da viagem à Alemanha, Virginia estava escrevendo Os Anos, que foi planejado para ser um romance social, uma espécie de panfleto que denunciaria as desigualdades de gênero e também convocaria as pessoas a resistirem à violência da guerra. Com sua postura pacifista, Virginia acreditava que as pessoas, principalmente as mulheres, não deveriam ceder à loucura coletiva, que reagir com violência aos ataques e investidas de Hitler era um erro. Que mesmo sendo atacados, os ingleses deveriam mostrar-se indiferentes. Fingir que nada estava acontecendo.
Essa ideologia pacifista se contrapunha a de muitos intelectuais da época, até mesmo a de seu marido Leonard, que acreditava que só vencendo a guerra contra a Alemanha eles conseguiriam manter o que ainda restava da civilização. Mesmo assim, Virginia não desistiu. Trabalhou duro no seu romance, consciente de que a ideia original (de escrever um romance panfleto) não poderia ser concluída. Durante este período, entrou em muitas crises nervosas, devido ao extremo esforço que fez para gerir uma história sobre as várias gerações de uma família inglesa. “Exprimiu o seu cérebro” para mostrar em Os Anos, o quão sufocante pode ser a vida cotidiana. O quão as mulheres foram e ainda eram reprimidas pelo padrão de vida inglês. E também abordar a política como algo a ser vivido nas relações cotidianas, e não simplesmente nos discursos supérfluos e vazios dos líderes que, segundo ela, “mais pareciam crianças brincando do que adultos decidindo o destino de uma nação”.
Tão duro foi o trabalho de composição de Os Anos, que Virginia chegou a cogitar que o livro iria para o lixo. Classificou-o como “livro maldito”. Disse a sua amiga Ethel que era duro olhar para um capítulo e ter que remover duzentas páginas. E o sofrimento não acabou com a publicação da obra. O medo da crítica a colocou na cama diversas vezes. Sua euforia era tanta, que precisou ficar algumas semanas em repouso em Rodmell. Porém, quando Leonard leu Os Anos, sentiu-se aliviado e disse a ela que muitos escritores teriam orgulho de publicar um livro como aquele, que era uma verdadeira obra de arte.
Infelizmente a declaração de Leonard não foi suficiente para acalmá-la. Virginia andava exausta e inquieta pela opinião dos críticos. Temia fazer papel de tola perante a classe literária. No entanto, seus nervos foram acalmando quando a primeiras críticas e resenhas nos jornais foram publicadas. O livro foi considerado quase por unanimidade: uma verdadeira obra prima. Alguns críticos achavam que era o livro mais comovente escrito por Virginia até então. Pouco tempo depois, conquistou o primeiro lugar entre os livros mais vendidos em Nova York, ao lado de E o vento levou, de Margaret Mitchell.
Entretanto o sucesso do livro não foi suficiente para reanimar Virginia. Ela sentia que ainda existia algo para ser dito. Foi então que começou a escrever Three Guineas, o panfleto que seria praticamente uma continuação de Os Anos. Em Three Guineas, fez denúncias e argumentou contra o nacionalismo e o patriarcalismo e em favor do pacifismo. Persistiu em mostrar casos de desigualdades contra as mulheres, como numa ocasião em que a rejeitaram para preencher um cargo em uma biblioteca apenas por ela ser do sexo feminino. Também foi a fundo em outras denúncias e por isso achou que a partir daí seria ignorada pela mídia e intelectuais da época, justamente por acertar em cheio as raízes muito sólidas da sociedade Inglesa. O que foi um equívoco, já que Three Guineas foi um sucesso.
Rumo à guerra
A guerra inevitável que estava por vir afetou e enfraqueceu ainda mais Virginia. Embora Leonard tenha dito que ela era “a criatura menos política que já existiu desde a antiguidade”, Virginia sentia-se intimamente afetada pelos acontecimentos . De fato, a escritora não participava das decisões e reuniões da Câmara dos comuns, e nem estava atenta às negociações, mas a sua grande capacidade de sentir a fazia refém do tumulto e da desordem instaurados na Europa da década de 1930.
Um exemplo da sensibilidade da escritora em relação às mudanças sociais pode ser notado com a publicação de As Ondas, em 1932. Durante o período de produção do livro, a Inglaterra passava por fortes dificuldades devido à grande crise econômica de 1929, e os líderes fascistas e nazistas já demonstravam poder e ascensão na Europa. Virginia, que não acompanhava a fundo essas mudanças, pode captar na atmosfera grandes forças destrutivas do ser humano que estavam emergindo, traduzindo-as inconscientemente numa passagem de As Ondas. As passagens se dão no momento em que a personagem Rhoda, em um monólogo interior, diz sentir “uma energia feroz e incontrolável, alguma monstruosa forma de vida que emerge erguendo sua crista escura do mar”. E também o personagem Louis que diz “ver aves selvagens, e impulsos mais selvagens que as aves selvagens jorram do meu coração”…
Mas desta vez, os conflitos demostravam-se piores. Enquanto trabalhava no jardim, Virginia via o tempo todo no chão as sombras dos aviões sobrevoando o céu. Ela escreveu em seu diário que esperava aflita o momento em que fossem jogadas bombas de gás venenos. Para aumentar sua infelicidade, seu sobrinho Julian, filho de sua irmã Vanessa, a quem era tão próxima e ligada, morrera na Guerra Civil Espanhola, atingido por um estilhaço de bomba. Virginia escreveu em seu diário que “achava que nunca mais seria feliz novamente”.
Para fugir da loucura coletiva e distrair a cabeça, ela começou a escrever a biografia do seu falecido amigo Roger Fry. Roger e Vanessa, irmã de Virginia, tinham sido namorados e mesmo depois da separação mantiveram a amizade e os laços. Virginia planejava dar a biografia de presente à sua irmã, que ainda sofria pela morte do filho. Como todo livro, a biografia de Roger Fry, que foi um dos mais importantes críticos de arte do século 20, acabou deixando Virginia exausta.
A Guerra chega a Rodmell
Aconselhados pelas autoridades, Virginia e Leonard mudaram-se de Londres para Rodmell. Neste meio tempo Virginia concluiu a biografia de Fry. Vanessa disse à irmã que era o retrato fiel de Roger. As resenhas nos jornais também foram favoráveis, com exceção de alguns que diziam que Roger Fry, Virginia Woolf e os outros intelectuais e artistas do grupo Bloomsbury eram, em parte, culpados pelo terror da guerra, pois passaram a vida se preocupando com angústias e prazeres individuais e elitistas, ao invés de alertarem a massa contra os perigos do totalitarismo. Virginia contra-argumentou dizendo que a arte é capaz de tornar o ser humano mais consciente, e que essa era uma boa maneira para alertar as pessoas.
No entanto, as críticas não tinham mais o sentido de outrora, pois os seus valores e pesos haviam sido dissipados pelos bombardeios e a vida no campo estava começando a deprimir a escritora. Em 10 de setembro de 1940, os Woolfs foram passear em Londres e encontraram os vidros de sua casa destruídos pelo impacto de uma bomba que explodira numa casa vizinha. Quiseram entrar, mas a casa estava isolada, pois uma bomba de efeito retardado havia caído em seu jardim e poderia explodir a qualquer momento. Eles deram meia volta e seguiram para Rodmell. No caminho, vendo o sofrimento de um vilarejo pobre que também havia sido atacado por aviões alemães, Virginia diz a Leonard “Nós, pelo menos, estivemos na Itália e lemos Shakespeare. Eles não.”. No dia seguinte, a bomba explodiu, deixando a casa de Virginia em Londres completamente destruída. Semelhante à casa do livro Ao Farol, na parte O Tempo Passa.
Sem a sua casa em Londres e a sua antiga rotina, Virginia começou a dar asas à depressão. Embora nesta época tenha escrito Entres Atos, um romance que celebra a vida no campo, ela detestava viver em Rodmell. O baixo grau de instrução de seus vizinhos a entediava. Ela dizia que eles abusavam dela e de Leonard. Que eram vampiros, sempre buscando sugar suas ideias. Sua saúde física começou a piorar, pois, devido à guerra, havia falta de alimento, o que fez com que ela emagrecesse cada dia mais.
No dia 27 de março de 1941, Leonard a convenceu a ir numa consulta médica, mas chegando lá, Virginia se esquivava das perguntas, dizendo que não precisava de ajuda. A médica era uma amiga próxima, que nos últimos meses vinha mandando leite e geleia de sua fazenda para os Woolfs, que estavam abandonados. Em seu diário, a médica Octavia escreveu o quão doloroso foi aquele momento, que não sabia se poderia realmente ajudar Virginia.
Virginia estava convencida de que aquele era o seu fim. Temia ser mandada para uma clínica, mas temia ainda mais a sua loucura. As vozes que em 1913 perturbaram a sua cabeça, regressaram com força total. Sua doença estava no auge e os impulsos suicidas também. Escrevera duas cartas, uma a Vanessa e outra a Leonard, mas não tivera coragem de entregar. Ainda lutava para sobreviver. Era uma pessoa que amava a vida. Um pouco antes, Leonard e ela haviam combinado de se suicidarem juntos caso Hitler invadisse a Inglaterra, porém Virginia desistiu, afirmando que queria viver mais dez anos escrevendo, que poderia ser feliz por mais dez anos.
Infelizmente isto não aconteceu. Os acontecimentos a enfraqueceram e a sua doença estava mais forte do que nunca. No dia seguinte à consulta, Virginia tentou se concentrar em alguns afazeres domésticos, conversou com Leonard de manhã e escreveu uma breve carta sobre a sua prancheta. Vestiu um casaco e pegou sua bengala. Caminhou sobre a lama, apanhando pedras e enfiando-as no bolso, e por fim entrou no rio segurando a sua bengala. Leonard encontrou duas cartas em cima da lareira deixadas por Virginia.
Abriu a endereçada para ele e em seguida correu para procurá-la. Encontrou pegadas na lama que iam em direção ao rio Ouse. A bengala de Virginia estava boiando próxima a margem. O pior já tinha acontecido.
Considerações finais
É provável que se a guerra não tivesse ocorrido, Virginia não teria se suicidado. Os ataques aéreos e a atmosfera conturbada potencializaram os medos da escritora. Ela assimilava a sua primeira crise nervosa de 1913 com os acontecimentos da Primeira Grande Guerra, e temia que voltasse a se sentir como antes, já que os acontecimentos eram semelhantes. Leonard concluiu junto a Octavia (que se sentia culpada) que a doença de Virginia fora reativada pelos conflitos políticos, que ela sofrera demais devido às mudanças e que o ato de sua morte era, em parte, consequência do caos instaurado na Europa naquele tempo. Virginia foi mais uma vítima do terror pregado pelos fascistas, nazistas e principalmente pela loucura de um “babuíno” chamado Hitler.
***
Virginia Woolf era uma pessoa que sentia um enorme prazer em coisas comum. Amava contemplar a natureza e possuía uma sensibilidade invejável. Fã de Lewis Carroll, planejou uma festa a fantasia com o tema Alice no País das Maravilhas, na qual foi vestida de lebre da colina. Seus amigos foram em grande parte pessoas importantes do séc. 20, como a escritora Katherine Mansfield e o criador da psicanálise, Sigmund Freud. Durante boa parte da sua vida, sentiu-se como ela mesma costumava dizer: Absolutamente, feliz.
Referência: Virginia Woolf: A medida da Vida, de Herbert Marder (Cosac Naify, 2011).
http://homoliteratus.com/os-anos-em-que-virginia-woolf-esteve-a-merce-das-loucuras-de-hitler/
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