Por que autores consagrados criam alter egos e por que eles fazem tanto sucesso, mesmo que saibamos que são na verdade os próprios autores?
“Escreva o que você conhece.” É um lugar-comum, porém sábio, o conselho, pois a recomendação é a base para alguns dos romances mais aclamados de todos os tempos. Alguns autores exploram o meio social das suas narrativas e acrescentam um enredo fictício enquanto outros escrevem um roman à clef, circundando as margens de ficção e realidade. O roman à clef – do francês, romance com chave – é um termo ideal para um história de ficção baseada na vida real. É uma forma perversa, e segredos são revelados entre os livros leves para a diversão (O diabos veste Prada) e os romances sérios (Redoma de Vidro). Não é surpresa que a maior parte dos escritores explorem suas próprias vidas, com o auxílio de um eu paralelo (muito parecido com os autores famosos que também empregaram alter egos). Autores podem escolher disfarçar seus alter egos com qualidades diferentes das suas ou deixá-los brilhar por si mesmos. Qual dos personagens é seu autor favorito disfarçado? Descubra na nossa lista de alter egos de escritores famosos.
Nick Adams – Ernest Hemingway
Ernest Hemingway escreveu sobre sua vida usando a perspectiva de seu alter ego, Nick Adams, em vinte e quatro narrativas. Elas foram recolhidas no livro The Nick Adams Stories, em 1972, e tratam de boa parte da vida de Hemingway da sua infância em Michigan até sua vida adulta com as experiências de guerras. Uma dessas histórias, The Killers, inspirou duas produções hollywoodianas, além do primeiro curta de Andrei Tarkovsky.
Henry Bech e Rabbit Angstrom – John Updike
O Janus coberto pelo alter ego de John Updike envolve dois anti-heróis – Rabbit Angstrom e Henry Bech. Rabbit, uma estrela do colegial que se tornar um vendedor de carros de meia-idade, parece traçar outra vida do autor, sem a consagração da crítica ou elogios, na qual se responde a questão de Updike: “Qual teria sido a minha vida se?”. Henry Bech, um escritor com bloqueios recorrentes, representa o hilariante lado sombrio do autor de círculos literários. Enquanto Rabbit causa estragos em seus relacionamentos, Bech está silenciosamente matando críticos literários. Por trás dos dois, pode ser visto o sorriso de John Updike.
Henry Chinaski – Charles Bukowski
Charles Bukowski e Henry Chinaski compartilharam tudo: a infância, a carreira, paixões e propensões ao alcoolismo. Cinco dos seus seis romances são baseados na sua própria vida, e estrela o ícone da vida medíocre e velada de Chinaski. Mesmo o sexto romance de Bukowski, e único realmente ficcional, Pulp, exibe os trejeitos do seu alter ego. Você poderia dizer que não seria um romance do Old Buk sem ele mesmo.
Kilgore Trout – Kurt Vonnegut
Kilgore Trout começou como um embuste de um escritor de ficção científica, Theodore Sturgeon, mas rapidamente se tornou o alter ego de Vonnegut. A carreira de escritor de Trout é espelhada na de Vonnegut, vista através de lentes hiperbólicas. Ambos eram originalmente vistos como escritores marginais de ficção científica e ganharam a consagração do público. Como escritores, exploram os mesmos temas. Trout aparece em seis romances do autor e até inspirou ilustrações e uma divertida entrevista entre os dois antes que Trout se matasse bebendo Drano.
Nathan Zuckerman – Philip Roth
Philip Roth usou originalmente Nathan Zuckerman, uma versão ficcionalizada do seu próprio eu, para explorar o meta-relacionamento entre o criador e sua obra. Roth apresentou Zuckerman em My Life as a Man como um alter ego do escritor fictício, Peter Tarnopol, fazendo com que Zuckerman fosse um alter ego do alter ego. O autor explora Zuckerman em seus últimos romances de forma direta como o narrador de A marca humana e Pastoral americana. Roth escreveu oito romances nos quais expõe seus alter egos – por volta de 2215 páginas!
Arturo Belano – Roberto Bolaño
Roberto Bolaño mostrou seu alter ego orgulhosamente, dando-lhe um nome que era uma aliteração do seu – Arturo Belano. O papel principal de Belano foi o de protagonista em Os Detetives Selvagens, mas a segunda vida de Bolaño apareceu em três romances e era o narrador do seu último e inacabado livro, 2666. Um bilhete escrito no fim do romance diz: “É isso, amigos. Fiz tudo. Vivi tudo. Se tivesse força, choraria. Eu convido todos vocês para a despedida. Arturo Belano.” Um bilhete realmente triste.
Esther Greenwood – Sylvia Plath
Sylvia Plath pretendeu tanto ocultar o papel de Esther Greenwood enquanto seu alter ego que Redoma de Vidro foi originalmente publicado sobre o pseudônimo de Victoria Lucas. Os paralelos são óbvios: ambas ganharam bolsas de estudo de revistas, foram rejeitadas por cursos de famosos escritores e foram institucionalizadas. O romance fala do declínio da mente de Plath. Infelizmente, a autora não sobreviveu por muito tempo ao seu alter ego: ela cometeu suicídio logo após a publicação de seu romance.
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