quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Bildungsroman: 5 romances de formação que deveríamos ter lido


relaxing in nature with book and musicO romance de formação, bildungsroman em alemão, é o tipo de livro mais profundo que normalmente parece ser. Focado num protagonista jovem, ele mostra as mudanças dos personagens na sua formação ou na transição para a idade adulta. Todos nós já passamos ou passaremos pelos múltiplos dilemas nessa transição, bem como os romancistas. Assim, a ideia é mostrar como sair da adolescência e chegar ao mundo adulto pode ser difícil e aterrador, colocando nossos sentimentos e valores em cheque.
Para tanto, selecionamos cinco romances bildungsroman que todos nós deveríamos ter lido – mas nem sempre o fizemos.

Demian – Hermann Hesse

Emil Sinclar é um Nietzsche em crescimento. Apesar de ter sido criado por bons pais, piedosos e tementes a Deus, ele acaba conhecendo Demain enquanto cresce numa realidade diferente daquela pregada a ele durante toda a sua curta vida. A busca pela personalidade própria é um dos elementos que levam a narrativa em frente, junto aos questionamentos infindáveis que Emil Sinclar se depara conforme vai crescendo.

David Copperfield – Charles Dickens

Como muitos romances de Dickens, David Copperfield narra a vida do personagem título da infância à idade adulta. As vivências que David tem durante a narrativa nos ajudam a entender o que era crescer na Inglaterra em meio ao boom da Revolução Industrial e o ambiente social gerado por ele.

Norwegian Wood – Haruki Murakami

Ambientado no fim dos anos 1960 e no início dos 1970, Norwegian Wood nos mostra a vida de Toru Watanabe, um jovem japonês que vai à universidade de teatro e se vê cercado por uma realidade estranha para ele no auge dos seus 18 anos. Além disso, ele ainda tem que saber lidar com o seu relacionamento com Naoko, ex-namorada do seu melhor amigo que cometeu suicídio aos 16 anos, e Midori, uma garota liberal e abertamente apaixonada por ele.

As Aventuras de Huckleberry Finn – Mark Twain

Apesar de ser considerado (e com razão) um tanto racista demais, mesmo para a época, As Aventuras de Huckleberry Finn mostra as inúmeras aventuras do protagonista e do seu melhor amigo, Tom Sawyer, pelo rio Mississippi e como a amizade pode por vezes ser a única chave para a salvação de ambos.

O Apanhador no Campo de Centeio – J. D. Salinger

Não há nada de novo a se dizer desse que é provavelmente o maior ou mais conhecido romance de formação de todos os tempos. Holden Caulfield se rebela contra o mundo falso a seu redor. Seu impacto na cultura americana – e consequentemente na mundial – é sentido até hoje. Entre o engraçado e o desconcertante, Salinger nos leva a um mundo onírico que pode ser a passagem à vida adulta.
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10 Títulos Incríveis de Livros


Dizem os “especialistas” que, para vender, um livro tem de ter uma capa atraente, com cores fortes e imagens que cause impacto. Não vou negar que alguns elementos (acabamento, costura, capa, qualidade do papel) reunidos num livro engrandecem a compra e nos enche de orgulho por tê-lo na estante, mas o que me chama mesmo a atenção e funciona como curiosidade para ler/comprar um livro é a originalidade do título.
Fiz uma seleção de dez títulos incríveis, entre nacionais e internacionais. Cabe ressaltar que nessa micro-coletânea entraram apenas os livros que já li, ficando o espaço aberto para que cada um cite os seus preferidos.
1 – Queda da Própria Altura, de Sérgio Tavares (vencedor do Prêmio Sesc de Literatura na categoria “conto” com o livro “Cavala”) – Segundo livro do escritor e jornalista Sérgio Tavares, “Queda da própria altura” procura jogar o leitor em um fluxo de imagens e de palavras, de onde brota uma história poética, embalada por fortes sonhos e desejos incontroláveis. Possuidor de uma escrita que hipnotiza, esse livro foi, pra mim, uma das maiores surpresas nesse ano. Imperdível a leitura!
A passagem tensa dos corpos (Companhia das Letras, 2009)
A passagem tensa dos corpos (Companhia das Letras, 2009)
2 – A Passagem Tensa dos Corpos, de Carlos de Brito e Mello (livro finalista dos prêmios São Paulo, Jabuti e Portugal Telecom em 2010) – Construído de 156 capítulos curtos, A passagem tensa dos corpos trata da morte. O narrador-personagem não é visto nem percebido por ninguém. Sua principal ocupação é percorrer cidades e registrar as mortes que encontra pelo caminho. Se a civilização se ergue sobre uma pilha de cadáveres soterrados, também a vida de cada um precisa da morte para se constituir. O narrador aos poucos se dá conta de que para existir de fato, necessita, ele mesmo, se apropriar de um dos corpos que registra.
3 – o filho de mil homens, de Valter Hugo Mãe (vencedor do prêmio José Saramago em 2007 com o romance “o remorso de baltazar serapião”) – Com vontade imensa de ser pai, o pescador Crisóstomo, um homem de quarenta anos, conhece o órfão Camilo, que um dia aparece em sua traineira. Ao redor dos dois, outros personagens testemunham a invenção e construção de uma família em vinte capítulos. Valter Hugo Mãe, ao falar de uma aldeia rural e dos sonhos anulados de quem vive nela, atravessa temas como solidão, preconceitos, vontades reprimidas, amor e compaixão.
4 – Outras Vidas Que Não a Minha, de Emmanuel Carrère - Afetado pela devastação do tsunami no Sri Lanka, o autor acompanha a jornada de um casal francês que perdeu sua filha de 4 anos. E, de volta à França, ao tentar retomar o cotidiano, ele se depara mais uma vez com a morte – uma mãe jovem, com três filhas pequenas, perde gradualmente a batalha contra o câncer.
5 – Terra de Casas Vazias, de André de Leones (vencedor do Prêmio Sesc de Literatura na categoria romance com o livro Hoje está um dia morto) – André de Leones exercita, em Terra de casas vazias, sua habilidade para construir personagens densos, assustadoramente contemporâneos, conjugando uma escrita ágil a um lirismo todo peculiar.
A Tristeza Extraordinária do Leopardo-Das-Neves (Companhia das Letras, 2013)
A Tristeza Extraordinária do Leopardo-Das-Neves (Companhia das Letras, 2013)
6 – A Tristeza Extraordinária do Leopardo-Das-Neves, de Joca Reiners Terron – Num velho casarão do Bom Retiro, bairro tradicional de São Paulo, uma enfermeira especializada em pacientes terminais atende a uma criança de hábitos noturnos. A criatura, como a própria enfermeira a batizou, não fala uma palavra e jamais sai de casa. Também não recebe visitas e o único contato com o mundo exterior é uma grande janela que dá para a rua. O contrato estipula que a enfermeira nunca deixe o casarão.
7 – Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu – A busca, a dor, o fracasso, o encontro, o amor e a esperança (elementos que delinearam toda a obra de Caio Fernando Abreu) estão presentes nos contos reunidos neste livro.
8 – Barba Ensopada de Sangue, de Daniel Galera – Um professor de educação física busca refúgio em Garopaba, um pequeno balneário de Santa Catarina, após a morte do pai. O protagonista (cujo nome não se conhece) se afasta da relação conturbada com os outros membros da família e mergulha em um isolamento geográfico e psicológico.
9 – Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, de Marçal Aquino – No momento em que narra os fatos, o fotógrafo Cauby está convalescendo de um trauma numa pensão barata, numa cidade do Pará que algum tempo antes fora palco de uma corrida do ouro. Sua voz se propõe a ser impregnada da experiência de quem aprendeu as regras de sobrevivência no submundo – mas não é do ambiente hostil ao seu redor que ele está falando. O motivo de sua descida ao inferno é Lavínia, a misteriosa e sedutora mulher de Ernani, um pastor evangélico.
Me roubaram uns dias contados (Record, 2010)
Me roubaram uns dias contados (Record, 2010)
10 – Me Roubaram Uns Dias Contados, de Rodrigo de Souza Leão – O texto inédito, organizado pelo poeta e jornalista Ramon Mello, curador de sua obra, é um romance que beira a autobiografia, em que Rodrigo é, ao mesmo tempo, autor e personagem de suas próprias histórias. Mas ele ignora com habilidade e extrapola esses limites em que a noção de realidade está o tempo todo em expansão, produzindo uma comunidade de muitos protagonistas.
Enfim, títulos incríveis tem me dado a oportunidade de ler livros incríveis. Vale a pena conferir os títulos acima. Existem outros, mas para não alongar demais essa lista, decidi fechar em dez. E ainda tem aqueles que não li, mas que já estão registrados para futuras compras: “A melhor maneira de comprar sapato”, de Rafael Mendes; “Casa entre vértebras”, de Wesley Peres; “O cadáver ri de seus despojos”, de Carlos de Brito e Mello; “Amor é tudo que nós dissemos que não era”, de Charles Bukosvski; “Cem anos de solidão”, de Gabriel Garcia Márquez.



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5 livros de meter medo


Procure não encontrar um gato preto na rua ou em cima de algum telhado (se você tiver um, é permitido — não vá hostilizar o pobre do bicho), e evite passar debaixo da escada. Pelo menos não hoje. “É Sexta-feira, amor”, como nos versos da canção do cantor Cícero, porém não é qualquer uma, e sim do dia 13.
Para os mais supersticiosos, sexta-feira 13 é sinônimo de dia do azar (palavra que, particularmente, nem gosto muito de expressar — será que sou um supersticioso?); no cinema é o dia onde Jason retorna do inferno para massacrar um grupo de jovens em grande ebulição sexual que vai passar o final de semana (de sexta para sábado) no Acampamento Crystal Lake, onde ele, ainda quando garoto, morreu afogado e, mais tarde, sua mãe decapitada.
E nada que uma boa leitura de sustos para fazer jus ao dia. Então, aí vai a minha lista:
Capa da editora Martin Claret
Capa da editora Martin Claret
1 – Noite na taverna, de Álvares de Azevedo:
Uma reunião de sete contos fúnebres (ou uma novela divida em sete capítulos), publicada postumamente em 1855 — com direito a cenas de canibalismo e necrofilia —, contadas por um grupo de amigos durante uma noite de embriaguez numa taverna.
O autor do livro morrera prematuramente aos 20 anos de idade, vítima de tuberculose, em 1852, antes mesmo de suas obras serem publicadas (ao todo, quatro); e tornou-se uma das maiores influências da cultura gótica e um dos grandes representantes da segunda fase do Romantismo brasileiro.
Segue abaixo um trecho do livro:
“Procurei, tateando, um lugar para assentar-me: toquei numa mesa. Mas ao passar-lhe a mão sentia banhada de umidade: além de senti uma cabeça fria como neve e molhada de um líquido espesso e meio coagulado. Era sangue…
Quando Ângela veio com a luz, eu vi… Era horrível!… O marido estava degolado.”
2 – O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde:
O romance publicado em 1890 e reeditado 1891, não é apenas a mais notória obra do intelectual e dramaturgo inglês Oscar Wilde, que discute, já no século XIX, um tema cada vez mais recorrente em nossa contemporaneidade — o culto à beleza. Simplesmente sua personagem central, Dorian Gray, um jovem da alta aristocracia inglesa, movido pela ambição narcisista referente à sua autoimagem, apreciada por homens e mulheres que o cercam, decide fazer um pacto com o diabo, para que a sua beleza e jovialidade permaneça ao longo de sua vida, e que apenas o seu retrato, pintado pelo amigo e pintor Basil Hallward, se definhe.
Gray, de fato, mantém sua aparência bela e jovial, mesmo com o passar dos anos. Mas o que ele não esperava era que tal feito resultaria em sua própria decadência moral e física.
O final do livro é simplesmente surpreendente e assustador, e inegavelmente faz do único romance de Oscar Wilde uma obra-prima da literatura.
3 – Acqua Toffana, de Patrícia Melo:
Perturbações mentais, crimes sexuais e sede de vingança são os componentes que fomentam o livro de estreia da escritora brasileira Patrícia Melo, publicado pela primeira vez em 1994. Seu ritmo ágil ornamentado por uma trama esteticamente influenciada pela linguagem cinematográfica nos insere a um universo psiquicamente bipolar e perigoso. Nem tudo que parece ser, de fato, é. E você pode estar compactuando com o inimigo.
4 – O silêncio dos inocentes, de Thomas Harris:
Este é o mais bem sucedido romance do escritor e roteirista Thomas Harris, publicado em 1988, que fez de sua mais enigmática e diabólica personagem, doutor Hannibal Lecter, um dos psicopatas mais conhecidos da história da literatura e também do cinema — já que o livro foi adaptado para as telas no ano de 1991, vencedor de 5 Oscars.
Mas é no livro que os detalhes de Harris fazem arrepiar nossos pelos.
Edição econômica da L&PM Pocket
Edição econômica da L&PM Pocket
5 – Horror em Red Hook, de H.P. Lovecraft:
É claro que eu não poderia deixar de ressaltar H.P. Lovecraft nesta lista dos cincos livros mais perturbadores da literatura, já que o próprio é considerado o mestre do gênero.
Nesta coletânea, que pode ser encontrada também em formato de bolso, a cinco reais, é apresentada três tramas que giram em torno de estórias sombrias, entre elas relacionada a uma seita de magia negra.
Escrito em 1925 e publicado em 1927, Lovecraft declarou-se publicamente insatisfeito com o resultado final de seu livro, assim como os críticos da época. Dizia que o conto Horror em Red Hook era demasiado longo para tal. Porém, gostando ou não, tornou-se um clássico da literatura mundial, influenciando, posteriormente, uma legião de autores do gênero terror.
O mito que gira em torno da ficção de Lovecraft é de que grande parte de suas estórias teriam sido inspiradas em seus pesadelos.
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Inocência e devassidão – A paixão masculina por ninfetas


Não é incomum ouvir homens dizendo que sempre preferem mulheres mais novas, ou mesmo mulheres dizendo que preferem homens mais velhos, por conta da sua maturidade.

O tema é  polêmico e é tão velho quanto a própria humanidade. Vários povos mantiveram, durante muito tempo, a tradição de casar mulheres mais jovens com homens mais velhos. Foi também um costume interiorano aqui no ocidente: há relatos de meninas de dez, onze, ou doze anos que, mesmo ainda brincando de bonecas, foram desposadas por homens já com mais de quarenta anos.
Se o costume não é mais tão comum, ainda restam resquícios dele. Há quem ainda perpetue, às vezes inconscientemente, essa busca. Não é incomum ouvir homens dizendo que sempre preferem mulheres mais novas, ou mesmo mulheres dizendo que preferem homens mais velhos, por conta da sua maturidade.
Muito já se disse também sobre a maturidade mental/biológica da mulher. Segundo teorias, a mulher amadureceria mais cedo do que o homem. Esse fato faria com que as próprias mulheres procurassem homens mais velhos e não os da sua própria idade. É claro que isso tudo é relativo nos tempos atuais. Mas é impossível negar os ecos de algo que se perpetua há tanto tempo.
De qualquer maneira, a pergunta fica: de onde vem essa paixão de homens mais velhos por mulheres mais jovens, as ninfetas, sobretudo por garotas na primeira fase adulta ou até mesmo na adolescência? Seria uma maneira de manter o próprio espírito jovem? Seria uma maneira de apaziguar o espírito e dizer a si mesmo que ainda se tem o espírito conquistador? Ou seria ainda uma maneira de afugentar a velhice ou até mesmo a morte?
O que nos atrai tanto, o que nos leva em direção a essas jovens mulheres? Seria um misto entre inocência (do tipo rostinho e pele angelicais) e malícia (enorme poder de sedução, persuasão e devassidão)? É a explicação que vários homens dão, e que está quase para um fetiche.  Seja qual for a razão, o que se diz aqui é mais do que uma verdade, é um fato. Obviamente a preferência não é unanimidade, porém, parece ser muito comum.
Eis alguns exemplos: Hugh Marston Hefner, fundador e dono da revista Playboy, manteve relações com Kendra Wilkinson, uma coelhinha da sua revista, sessenta anos mais nova que ele; futuro presidente da CBF, Marco Polo Del Nero é visto constantemente na companhia de várias mulheres bem mais jovens do que ele. Na arte, há diversos exemplos (tanto na literatura quanto no cinema: a minissérie Presença de Anita talvez seja a imagem mais nítida na mente dos brasileiros).  Aqui vai uma pequena lista de livros consagrados que abordam esse tema. Boa leitura!

Lolita – Vladimir Nabokov

Um dos livros mais conhecidos a abordar esse tema, é a obra-prima do escritor Vladimir Nabokov, russo radicado nos Estados Unidos. É a história de Humbert, um professor britânico que vai morar e trabalhar nos Estados Unidos. Procura um lugar para se instalar e acaba se decidindo pela pensão da família Haze justamente pela presença inquietante de uma garota de doze anos chamada Lolita. Ela tem o tal misto entre inocência e devassidão. Hunter decide morar ali e se relaciona com a mãe de Lolita, chegando até a se casar com ela: tudo isso para se manter próximo à ninfeta. Durante algum tempo, eles mantêm um caso sigiloso. Mas, depois da morte da matriarca da família Haze, o que parecia ser um paraíso para Hunter, ou seja, viver sozinho com Lolita, acaba se tornando um inferno para ele.

Memórias de minhas putas tristes – Gabriel García Márquez

Livro que difere muito do estilo adotado por García Márquez e que fez do prêmio Nobel colombiano um dos escritores mais lidos da história da literatura latino-americana. A história não se passa em Macondo, nem possui os traços marcantes do realismo mágico que construiu um mundo à parte na literatura. Aqui o protagonista é um jornalista de noventa anos que decide se dar de presente uma menina de quatorze anos. Contudo, a relação acaba sendo diferente do que ele imaginava: conhecerá pela primeira vez em toda a sua vida o verdadeiro amor.

A ninfa inconstante – Guillermo Cabrera Infante

Romance póstumo de um dos maiores escritores cubanos. Infante foi também ensaísta e roteirista. Depois de romper com o governo de Fidel Castro, instalou-se em Bruxelas, onde viveu até sua morte em 2005. Nesse romance, o personagem principal, um homem de meia-idade altamente intelectualizado descobre-se apaixonado por uma ninfeta de apenas dezesseis anos. Estela é pobre e não conhece nada do mundo culto ao qual pertence o seu amado. Um intelectual que, apesar das referências mais refinadas na hora de liricizar o diálogo em seus encontros com Estelita, vê-se afundado no que é mais clichê e piegas dessa relação. 

Travessuras da menina má – Mário Vargas Llosa

Romance semi-autobiográfico, o livro é um best-seller do peruano Nobel de Literatura. É de um romance de viagem, no qual o protagonista, durante décadas, viaja por Lima, Madri, Paris, Tóquio e Londres. Faz toda essa jornada por conta do seu amor incontido por Lily, uma mulher mais jovem e interesseira que ilude os homens por onde quer que vá.

Gabriela, Cravo e Canela - Jorge Amado



As obras de Jorge Amado não são conhecidas somente pela riqueza da história, cultura e sincretismo do povo baiano, nem somente pelas paisagens que enriquecem suas descrições. Fala também de mulheres, sexo e, por que não, libertinagem. Gabriela, Cravo e Canela é um exemplo disso. Gabriela, protagonista que nomeia a obra, é uma jovem morena sensual. É uma sertaneja migrante, que acaba por se instalar em Ilhéus, para trabalhar na casa de Nacib, um imigrante libanês. É cortejada por vários homens, mas acaba se relacionando com seu patrão. Uma das coisas que mais fizeram a cabeça dos homens foi seu jeito despojado, nada recatado. Seu corpo de mulher e seu jeito inocente perpetuava nos sonhos masculinos de toda a cidade.
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A ruptura no sistema literário feita por Machado de Assis


Uma análise concisa do que já havia de inovador no jovem Machado de Assis.

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Machado de Assis, ilustração de Douglas Docelino.
Machado de Assis (1839-1908) conquistou e ainda conquista uma legião de leitores. Milhares de pessoas instruem-se, divertem-se e se assombram com os escritos magistrais e imortais deixados por esse escritor brasileiro. Sua obra alia-se à sutileza psicológica sem deixar de lado o ambiente político, cultural e social do Rio de Janeiro na virada do século.
No que diz respeito às rupturas literárias, Machado de Assis não se submete a certas estéticas. Rompeu com a estética romântica e, também, a realista, que, entre tantas coisas, louvava o distanciamento e objetividade do narrador, o que resulta em descrições exatas e reais. O escritor refutava o realismo, e dizia ainda que a escola literária se aproximava da reprodução fotográfica, cheia de coisas mínimas e ignóbeis.
Embora seu primeiro romance, Ressureição (1872), não receba, hoje, muitas críticas e atenção do público leitor, este romance já recusa certas características realistas, no eixo temático e no acabamento formal.  O romance se configura como um novo projeto literário, já no prólogo Machado adverte que não quis fazer um romance de costumes, mas que tentou esboçar uma determinada situação e seus contrastes.
Em Ressureição, o personagem Félix, um homem de 36 anos, médico que enriqueceu após uma herança inesperada, que nunca havia se encantado por muito tempo por uma moça, ao conhecer Lívia, uma viúva de 24 anos, apaixona-se, e é correspondido. Em função de uma série de acontecimentos, Felix rompe e reata o relacionamento com Lívia inúmeras vezes. Além de disso, um amigo de Félix, Meneses, apaixona-se por Lívia, enquanto Raquel, amiga de Lívia, apaixona-se por Félix. Eis, então, um quadro que poderia gerar o ápice de uma obra romântica, mas nada disso, pois nada acontece entre Lívia e Meneses e nem entre Félix e Raquel. As idas e vindas do romance acontecem em função de Félix, sua psicologia e suas considerações subjetivas, a intensidade só aumenta quando as Lívia e Raquel descobrem que amam o mesmo homem e, depois, com a chegada de uma carta anônima.
O foco do romance está nas motivações dos personagens e suas análises e na posição do narrador, há um espaço reservado para o leitor dentro do romance. Machado prima por outro tipo de leitura, não romântica, não realista, não naturalista ou positivista. Não que ele deixe de lado o Brasil (era comum nos romances do romantismo a exaltação ao amor a pátria, natureza, povo, religião e passado), mas ele alimenta outra forma de expressão, menos ufanista e mais social. O escritor privilegia o confronto de caracteres, faz com que os personagens sejam mais importantes que sequência de ações (como os elementos clássicos das narrativas/tragédias greco-romanas: pathos, peripécias, catarses, entre outros) e deixa de lado as narrativas repletas de costumes regionais e os êxtases poéticos.
Machado de Assis foi um mestre em manter uma ponte entre narrador e leitor, superou as expectativas daqueles leitores acostumados com as características centrais do Romantismo. O narrador de Machado dialoga com o leitor, com um tom respeitoso, porém totalmente irônico, e isso é fortemente marcado em sua obra Memórias póstumas de Brás Cubas.
Inicialmente, a obra foi desenvolvida como folhetim, de março a dezembro de 1880, na Revista Brasileira. No ano seguinte, foi publicada como livro, pela Tipografia Nacional. É importante ressaltar que, nessa época, o romance precisava se adaptar aos novos tempos, não cabia mais mulheres como Lívia, deRessureição, uma obra que transitava em um casamento anulado, ciúmes doentios, brigas entre namorado terminando sozinha.

O defunto-narrador-personagem, Brás Cubas, cava um fosso entre dois mundos, uma revolução ideológica e também formal. Aprofundou o desprezo às idealizações do romantismo e feriu o mito do narrador onisciente, que tudo sabe e julga, deixou transparecer a consciência do indivíduo.
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A Escrita Informal na Internet

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A Internet, como espaço livre de criação e compartilhamento de conteúdo, possui um acervo bastante diverso, que serve tanto para nos fazer procrastinar infinitamente quanto para nos oferecer opções variadas e acessíveis de entretenimento e informação. No que se refere à produção escrita, as possibilidades são imensas. Existem blogs sobre diversos assuntos, inclusive com textos autorais muito interessantes, que por vezes são a alavanca do escritor contemporâneo iniciante. A autopublicação já é uma realidade no Brasil e, apesar de ser um caminho mais trabalhoso, confere bastante liberdade ao novo autor.
Além dos blogs, existem também plataformas voltadas para a produção literária, como Recanto das Letras,Novos Escritores e Nyah Fafiction. Sem falar em grupos de redes sociais também dedicados à publicação de produções artísticas. Um dos exemplos é a comunidade Rede Globo, criada no antigo Orkut e agora ativa na rede russa VK, que, apesar de ter como objetivos iniciais a divulgação e troca de opiniões sobre as principais produções globais, ampliou seu conteúdo para a publicação de webnovelas e webséries, especialmente interessantes para quem gosta do gênero roteiro.
O problema principal dessas produções virtuais é saber filtrar os textos de qualidade daqueles mais imaturos. A facilidade de divulgar seus próprios textos na Internet vem acompanhada da arrogância ou falta de senso de quem acha que qualquer um pode escrever qualquer coisa e já chamar isso de boa literatura. No entanto, cabe ao leitor e ao escritor virtual a crítica e autocrítica necessária para tornar as horas passadas online mais prazerosas e produtivas.


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O que é um romance? Moby Dick responde


Dom QuixotePsicose e Moby Dick para entendermos o “problema das variações”, a estrutura da qual se constitui um romance.

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Ilustração de Jared Muralt
Há um parágrafo capital no livro Romance das origens, origens do romance, de Robert Marthe, para quem quer entender “o que é o romance?”. Vejamos:
“(…) o romance faz rigorosamente o que quer: nada o impede de utilizar para seus próprios fins a descrição, a narração, o drama, o ensaio, o comentário, o monólogo, o discurso; nem de ser a seu bel-prazer, sucessiva ou simultaneamente, fábula, história, apólogo, idílico, crônica, conto, epopeia; nenhuma prescrição, nenhuma proibição vem limitá-lo na escolha de um tema, um cenário, um tempo, um espaço, nada em absoluto o obriga a observar o único interdito ao qual se submete em geral, o que determina sua vocação prosaica: ele pode, se julgar necessário, conter poemas ou simplesmente ser ‘poético’.” (pg. 13-14).
Portanto, como definir este gênero? Existe limite para o romance?
Podemos começar a pensar naquele que é considerado, por muitos, o primeiro romance:Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes. Poderia ser somente mais um livro de cavalaria entre tantos outros, mas aí entra o gênio de Cervantes. O Quixote transcende seus contemporâneos quando narra a história de um homem que, após ler inúmeros livros de cavalaria, passa a compreender o mundo ao seu redor a partir do que aprendeu lendo. Temos aí loucura, metalinguagem, o arquétipo da dupla de personagens – o herói e seu fiel ajudante trapalhão –, contos e poemas dentro do romance entre outras artimanhas do gênero.
Isso tudo se enquadra no mais importante para existir um romance: as variações. Em um grande livro do gênero, nunca encontramos uma constância narrativa. Por exemplo, seria um equívoco esperar de um romance uma regularidade de cenas violentas na história inteira. Mesmo em um livro que traga um psicopata como protagonista, temos momentos de tranquilidade, de volta a infância, etc. Em Psicose, de Robert Bloch (romance eternizado no cinema em 1960 por Alfred Hitchcock), não começamos com um assassinato, mas com uma cena inocente de discussão entre mãe e filho de um lado, e o amor impossível de Sam e Marion de outro. Nada mais corriqueiro. Apenas por este motivo os assassinatos são impactantes quando acontecem.
Um ótimo exemplo para entendermos estas “variações que constituem um romance” é Moby Dick. Sem dúvida alguma, um livro à frente do seu tempo. Lêdo Ivo em As obras-primas que poucos leram diz que “Só aos poucos [...] a crítica foi aprendendo a colocar esta obra-prima de Herman Meville na sua exata dimensão”(pg. 205). E Malcom Cowley (em The Literary Situation) afirma que o principal trabalho de três décadas nos Estados Unidos, a partir de 1920, não foi qualquer livro de Hemingway ou Faulkner, mas sim a aceitação de Moby Dick como um épico americano – muitos anos depois de Melville ter morrido com certa obscuridade e falta de reconhecimento.
Moby_Dick_2
Ilustração de Jared Muralt
No entanto, alguém que lê a sinopse de Moby Dickpode se perguntar: o que há de grandioso numa história de um velho pescador que sai para caçar uma baleia branca? A princípio pode parecer mais uma aventura – tal qual a diversão que se encontra em um filme de Indiana Jones, nada contra –, mas há muito mais ali, pois estamos falando de um grande romance. Como define Lêdo Ivo, Moby Dick é:
“Conflito do homem com a natureza, luta do indivíduo com o seu destino, combate entre o Bem e o Mal, mistério supremo da existência, sucedâneo de Deus – qualquer que seja a simbologia atribuída à baleia de Melville, ela tem resistido, como O Castelo de Kafka, a interpretações fechadas. Só isso bastaria para dar uma medida da sua universalidade, no tempo e no espaço” (pg. 205).
As possibilidades interpretativas e simbólicas são o que constroem os grandes romances, quando aliadas às citadas “variações”, formando uma só conjuntura. Em Moby Dick, temos a cena hilária do narrador Ishmael tendo que dividir a cama com o canibal Queequeg, além de outra cena em que o imediato Stubb obriga o cozinheiro a pregar um sermão cristão para os tubarões. Acompanhamos também as músicas cantadas pelos marinheiros, e as longas explicações que o narrador dá sobre a biologia das baleias, semelhantes a ensaios sobre esses cetáceos. No entanto, encontramos no coração das caçadas um ritmo frenético de narração, como se assistíssemos à cena de um filme de forte tensão – isso em um romance escrito muito antes da aparição da sétima arte. E Meville vai variando, carregando por centenas de páginas, tudo num ritmo certo. Demoramos mais de cem páginas para entrar no barco Pequod, porém quando chegamos lá, encontramos o poderoso Ahab, cuja a história revelada exercerá em nós fascínio e medo.
Constatamos que estamos diante de um romance quando nos envolvemos nesta viagem que ele nos propicia – seja interna ou externa –, transitando entre as variações que tornam a história possível. Seja ao acompanharmos as trapalhadas de Dom Quixote e Sancho Pança, o psicopata Norman Bates, ou a caçada à baleia branca.
Referências:
BLOCH, Robert. Psicose. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2013.
CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote de La Mancha. São Paulo: Penguim Classics Companhia das Letras, 2011.
IVO, Lêdo. Moby Dick de Herman Meville. In: SEIXAS, Heloisa (Org.). Obras-primas que poucos leram. – 2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.
MARTHE, Robert. Romance das origens, origens do romance. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
MEVILLE, Herman. Moby Dick, ou a Baleia. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
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Literatura: serve para quê?


Mas afinal de contas, a literatura serve para quê? Na maioria das vezes, lemos uma obra literária e não nos perguntamos qual é a função que ela desempenha em nossas vidas.   

No artigo A literatura e a formação do homem (1972), o crítico literário e sociólogo brasileiro Antonio Candido declara que a literatura tem força humanizadora; ela é capaz de exprimir o homem, sem deixar de atuar, ao mesmo tempo, em sua formação.
E como se dá esse tal processo humanizador?  Candido destaca que esse processo de humanização se realiza a partir de três funções:
  1. psicológica, pois todo homem, seja criança, adolescente ou adulto, precisa consumir fantasia porque ninguém pode passar um dia sem criar, imaginar, contar piadas ou histórias mais elaboradas;
  2. formadora, que não se deve ser confundida com pedagógica ou moralizadora, pois a arte literária não é inofensiva, ao transfigurar o real ela carrega tanto o bem como o mal;
  3. reconhecimento do mundo e do ser, pois ao sintetizar o real, o texto de uma obra oferece aos leitores uma visão de mundo em que vivem de modo que possam compreender os papeis que desempenham nele.
Ao contrário do que se pensava antigamente sobre a literatura – sobretudo a destinada para os jovens –, que tinha um papel formativo tradicional,  pedagógico e moralizador, Candido considera que esta nobre arte possui papel formador, sim, todavia de personalidade do homem, e não de convenções sociais, saberes didáticos, direitos e deveres. A literatura permite ao homem conhecer a si mesmo e a própria realidade, o que, consequentemente, direciona um poderoso despertar de senso crítico.
O texto literário sintetiza o real e, ao fazer isso, “oferece aos leitores uma visão do mundo em que vivem de modo que possam compreender os papéis que nele desempenham. Embora a obra literária constitua um mundo autônomo, ou seja, não é o mundo real, essa autonomia não a desliga de suas fontes da realidade e não inviabiliza a capacidade que a obra tem de atuar sobre o real que a motiva.” (MARTHA, 2011, p. 16)
A literatura, portanto, serve para o conhecimento do mundo e do ser. Sua função formadora não deve ser confundida com uma missão pedagógica.

Referências:
CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. In: Ciência e Ciência. São Paulo, setembro de 1972, vol. 24 (9).
MARTHA, Alice Áurea Penteado; org. Tópicos de Literatura Infantil e Juvenil. Formação de professores em Letras – EAD. In: MARTHA, Alice Áurea Penteado; Literatura Infantil e juvenil: concepções introdutórias. Maringá, 2011.
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12 autores que deveriam (ou não) ter ganhado o Nobel de Literatura


Por mais de cem anos, a Academia Sueca vem agraciando escritores com o Nobel de Literatura. Mas será que todos que ganharam realmente mereceram (ou será que todos que mereceram ganharam)?

Todo ano, quando se chega à época de anunciar o Nobel de Literatura, várias listas são feitas e há inclusive apostas para ver quem será o ganhador do ano – e quase todo mundo acaba, invariavelmente, errando o nome do vencedor.
Muito se discute para saber quais são os critérios reais para a escolha de cada ano, principalmente quando se nota que grandes nomes da Literatura mundial ficaram de fora e outros, nem tão grandes assim, estão dentro. Sempre pairam no ar certos preconceitos da Academia Sueca frente a determinados grupos e países – e entre eles está a América Latina, onde o Brasil, ao lado da Argentina e do Uruguai, amargam o zero absoluto apesar de elencarem alguns dos grandes autores do último século.
Deixemos de papo e vamos conhecer os doze autores que deveriam (ou não) ter ganhado o Nobel de Literatura.

Carlos Drummond de Andrade

Pablo Neruda, Nobel em 1971, era um grande admirador de Drummond, bem como Juan Ramon Jimenez, Nobel em 1956, seguido de Czeslaw Milosz, Nobel em 1980, e que o leu em inglês. Pode até parecer reclamação pelo fato do Brasil nunca ter ganhado ao respectivo título, mas o fato é que o nosso gauchetinha todos os requisitos e talentos necessários para tanto. Comparada aos outros grandes poetas vencedores, como T. S. Elliot, Nobel em 1948, Drummond tem uma obra tão boa, senão melhor, padecendo apenas de um mal incurável: escrever nessa lusa língua esquecida pelo resto do mundo (mesmo nossos colonizadores portugueses têm um mísero prêmio com José Saramago, o que mostra o quanto pode ser difícil escrever em português). O mundo é quem perde a oportunidade de conhecer um dos maiores poetas do século passado, autor de uma obra rica e profunda, digna de ser laureada.

John Steinbeck (Nobel em 1962)

Não há como negar que Steinbeck é um bom autor. O clássico dirigido por John Ford em 1940, As vinhas da ira, baseado no romance de mesmo nome, bem como outras adaptações às telonas mostram a força do seu naturalismo literário em pleno século XX. Mas será que ele realmente merecia o Nobel de 1962? Quando questionado pelo The New York Times sobre o caso, Steinbeck foi sincero: “Francamente, não.” Cinqüenta anos depois, ao serem abertos os arquivos daquele ano, viu-se que Steinbeck não estava na lista inicial dos candidatos – que incluía Lawrence Durral e Karen Blixen.

Jorge Luís Borges

Um exemplo clássico de que política conta, e muito!, para eleger o vencedor refere-se à figura do cânone Jorge Luís Borges. Sua obra é o início do que viria a ser chamado Realismo Mágico, influenciando um sem-fim de escritores, alguns, inclusive, ganhadores do Nobel. Mas o que fez com que o argentino Borges ficasse de fora do seleto grupo de ganhadores? O pecado foi ter, quer queiramos ou não, apoiado vários dos ditadores latino-americanos nas décadas de 1960 e 1970, especialmente o chileno Augusto Pinochet. Por muitos anos ele esteve na lista dos prováveis ganhadores, como atestam seus biógrafos, e por muitos anos ele foi negado por motivações pessoais. Neste momento, me vem uma questão em mente: quem ganha o prêmio é o autor ou a sua obra?

Aleksandr Solzhenitsyn (Nobel em 1970)

O caso de Solzhenitsyn pode ser visto da seguinte forma: um autor de resistência à URSS em meio à Guerra Fria, premiado mais pela sua posição política do que por suas obras (ou o conjunto delas). Não que sua obra seja de má qualidade, mas nunca antes na história do prêmio um autor com tão poucos livros publicados, num curto espaço de tempo, ganhou o prêmio – e nunca mais viria a acontecer. Solzhenitsyn já tinha publicado aquilo que seria sua marca para a posteridade, O primeiro círculoO pavilhão dos cancerososUm dia na vida de Ivan Denisovich. O problema é que esses três romances, comparados a outros dessa lista que ficaram de fora, são muito pouco ou quase nada. Solzhenitsyn, talvez, seja o melhor exemplo de prêmio político que se tem notícia.

Eyvind Johshon e Harry Martinson (ambos Nobel em 1974)

Se você perguntar por esses dois nomes fora do mundo escandinavo, para não dizer fora da Suécia, é pouco provável que alguém saberá lhe dizer quem eles são e o que faziam. O fato, contudo, é que ambos dividiram o Nobel de 1974. Mas os problemas ainda estão por vir. Não bastasse a falta de relevância de ambos fora da Suécia, tais escritores também eram, vejam só, membros da Academia Sueca, responsáveis pela escolha do prêmio. Não bastasse esse fato, há o agravante de que ambos ganharam de três grandes nomes na corrida pelo Nobel em 1974: o inglês Graham Greene, o americano Saul Bellow e o russo-americano Vladimir Nabokov. Bellow venceu dois anos depois, Greene e Nabokov amargaram o esquecimento.

Vladimir Nabokov

Autor de romances consagrados, Nabokov não só perdeu o prêmio como foi passado para trás por dois dos que selecionavam os candidatos. Sua obra é forte e marcante, sendo referência ainda hoje a inúmeros escritores de nacionalidades distintas. Com romances psicológicos, A defesa Luzhin, tramas pós-modernas,Fogo Pálido, romances on the road como é o caso de Lolita, temos uma amostra do conjunto composto por esse russo exilado desde a Revolução de 1917. Para quem lê suas narrativas, tendo sido escritas em russo ou inglês, é impossível não se fascinar com a facilidade com que somos envolvidos pela sua linguagem bem elaborada e saborosa.

Carlos Fuentes

Carlos Fuentes
A morte de Artemio Cruz é um dos maiores romances do boom latino-americano, e seu autor um dos centros desse momento histórico no qual já não se acreditava mais na força do romance, muitos dando o gênero como morto. Fuentes foi autor de uma obra fortemente política, bem como a maioria dos escritores da sua geração. Sua terra natal, o México, foi examinada à exaustão em seus romances e ensaios acadêmicos, mostrando a herança maldita deixada pelos colonizadores, além apontar as bizarrices surgidas nas sociedades latino-americanas decorrentes dessa colonização. Pode-se dizer, inclusive, que sua obra, muitas vezes, comparada à de Garcia Márquez, consegue superá-la em certos pontos, mesmo não tendo o frescor caribenho do último autor citado. Uma injustiça com o povo latino, o que mostra mais uma vez a visão eurocêntrica do Nobel.

Winston Churchill (Nobel em 1953)

Você pode estar achando que leu errado, mas não há nada de errado com o nome que foi lido. Em 1953 o mundo descobriu que o ganhador do prêmio era nada mais nada menos do que o primeiro-ministro inglês Winston Churchill. Segundo nota divulgada pela Academia Sueca, ele ganhou “por sua maestria na descrição histórica e biográfica, bem como pela brilhante oratória em defesa dos valores humanos”. O livro em questão que lhe rendeu o prêmio foi uma autobiografia em cinco volumes, bem como alguns trabalhos jornalísticos anteriores ao período em que fora primeiro-ministro durante a Segunda Guerra Mundial. O que fica claro, porém, é que este, bem como outros prêmios dados durante o período da Guerra Fria, tem mais ingredientes políticos do que realmente literários – ou quem sabe é uma forma de se dizer obrigado pelos feitos de Winston Churchill, durante a Segunda Guerra.

Thomas Pynchon

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Quando se fala em romances pós-modernos, muitos nomes surgem, porém todos são unânimes ao apontar o nome de Thomas Pynchon.  Autor de obras extremamente criativas, nas quais é possível encontrar conteúdos diversos como física, matemática, psicologia, química, mitologia, história, quadrinhos, música pop, drogas, pastiche, ocultismo e paranóia. O arco-íris da gravidade é apontados por muitos escritores e críticos, inclusive pelo nada amigável Harold Bloom, como uma das maiores e melhores narrativas de todos os tempos. Contudo, o fato que o levará a não ganhar ao prêmio não está na qualidade do conjunto de suas obras, muito menos em questões políticas. O problema, por mais engraçado que ele seja, é que a Academia tem medo de lhe dar o prêmio e não aparecer ninguém para recebê-lo.
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